Getúlio Vargas e a falácia da mestiçagem
- izabiluka
- 10 de ago. de 2016
- 2 min de leitura

E eis que chegam os anos 30 com Getúlio Vargas puxando o bonde do mito da mestiçagem. Contrariando, portanto, a cartilha dos eugenistas que defendiam e alertavam para o embranquecimento urgente da nação.
O governo de Getúlio fomentava novos projetos para o país e isso dizia respeito a almejada democracia racial. Era inaugurada a fase do discurso “somos uma nação misturada". Formada por índios, negros e brancos vivendo harmoniosamente e construindo novas trajetórias.
É. O Brasil com recente passado escravocrata e que tanto se dedicou ao processo de eugenia onde a principal política pública era o branqueamento da nação, resolveu despertar para o país da “boa consciência” que nega o preconceito ou ainda pior, o reconhece como mais brando. Afirma-se de modo genérico e sem questionamento uma certa harmonia racial e joga-se para o plano pessoal os possíveis conflitos. Essa é sem dúvida uma maneira problemática de lidar com o tema: ora ele se torna inexistente, ora aparece na roupa de alguém outro. Nosso problema em nomear as coisas. Devidamente. Exemplo disso é uma pesquisa que foi realizada em 1988, em São Paulo, na qual 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito e 98% - dos mesmos entrevistados – disseram conhecer outras pessoas que tinham, sim, preconceito. Ao mesmo tempo, quando inquiridos sobre o grau de relação com aqueles que consideravam racistas, os entrevistados apontavam com freqüência parentes próximos, namorados e amigos íntimos.
Todo brasileiro parece se sentir, portanto, como uma ilha de democracia racial cercada de racistas por todos os lados. Não se reconhece racista já que o difícil é admitir a discriminação e não o ato de discriminar. Além disso, o problema parece ser o de afirmar oficialmente o preconceito e não o de reconhecê-lo na intimidade. Não sou racista mas...
Tudo isso indica que estamos diante de um tipo particular de racismo, um racismo silencioso e sem cara que se esconde por trás de uma suposta garantia da igualdade das leis e que lança para o terreno do privado o jogo da discriminação. A prática é sempre atribuída a “outro”. E esse outro, como já citado, não se reconhece racista.
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