Compra, venda e aluguel: de gente

Houve um tempo em que anúncios de compra, venda e aluguel DE GENTE eram normais. Gente que era tratada feito coisa. Gente totalmente anulada como sujeito. Gente preta. A escravidão "em tese" foi abolida em 13 de maio de 1888. Pouco ou nada se conta sobre o dia 14 de maio. O período da escravidão se arrastou por quatro séculos e segue até hoje sendo narrado de maneira rasa e equivocada nos estudos de história. Índios e, principalmente, negros eram tratados como animais e sem qualquer direito civil. Pessoas compravam, emprestavam, vendiam e alugavam escravos em uma atividade que movimentava a economia brasileira no século 19.

Anúncios como estes são provas documentais de um passado repleto de cicatrizes em nossa trajetória que ainda irão demorar muitos anos para serem curadas. Mesmo porque, o Brasil é um país que não se reconhece racista e vive na chave da hipocrisia sustentando a falácia do mito das três raças: onde todos são iguais, tem as mesmas chances, pontos de partida e vivem felizes em pleno paraíso tropical. Brasil é um país construído por mão de obra escrava e a cultura da servidão fomentada por 400 anos produz seus ecos até hoje.

Anúncios de jornal que na época eram considerados normais e corriqueiros eram veiculados entre os anos de 1857 e 1879. Muitos proprietários possuíam número excessivo de escravos. Estes mesmos proprietários publicavam anúncios de aluguel nos jornais, para que interessados pudessem alugá-los por um determinado período. Também eram comuns as vendas, como mostram os dois anúncios abaixo.

Os mais comuns eram os anúncios de alerta de fugas de escravos. Na segunda metade do século 19, as fugas de escravos tornaram-se mais frequentes e os anúncios eram a maneira mais eficaz para tentar recuperar um fugitivo e nos anúncios a descrição das características do escravo, para facilitar a identificação dos mesmos:

Documentos como os que se apresentam neste texto estão disponíveis em inúmeros sites que mostram com profundidade o que foi este período. Textos que denunciam e ilustram o cotidiano de um país que tinham os traficantes de gente como parceiros.

Fonte: São Paulo, antiga