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profissão: tigreiros


Até hoje, não nos aprofundamos em inúmeros assuntos vivendo na superficialidade da história. Seja no ambiente escolar, familiar ou nas universidades o exercício de refletir sobre verdades inconvenientes se torna bastante difícil e por vezes a preguiça fala mais alto deixando o assunto no esquecimento. Quando se trata do período escravocrata o conhecimento é praticamente nulo. Inconveniente ou não o texto que segue vai falar especificamente de certas funções muito comuns no Brasil Império que nos ajuda enxergar mais uma vez como era o tratamento dispensado aos negros naquela época. Neste caso, falaremos dos Tigreiros.

Assim eram chamados esses escravos que andavam pelas ruas da cidade em meio a vísceras de animais e restos de vegetais em estado de putrefação, espalhados por todo lado, carregando as barricas na cabeça. Barricas que transbordavam dejetos de seus senhores. Esses barris eram conhecidos como "tigres" e os seus condutores como "tigreiros". Conforme se locomoviam, o conteúdo ia escorrendo sobre os ombros e as costas dos infelizes, o que provocava manchas na pele semelhantes as de um tigre, daí o apelido de Tigreiros.

Era sobre as cabeças deles que o peso das barricas era conduzido para ser despejado na “beira” das marés. Em seguida, os carregadores retornavam com os recipientes vazios para receber nova carga.

Existem versões que afirmam que o apelido foi dado porque, ao avistar os negros levando barris de dejetos, os transeuntes, com medo de ficarem sujos, afastavam-se rapidamente, como se fugissem de um animal selvagem.

Nessa época, em algumas cidades, todo o lixo doméstico e até mesmo os penicos eram despejados do alto dos sobrados diretamente sobre a rua, muitas vezes acertando a cabeça dos transeuntes e tornando-a uma verdadeira fonte de doenças como varíola, disenterias, febres e tantas outras.

Apenas no final do século XIX que médicos e autoridades passaram a se preocupar com a onda de doenças e começaram aplicar leis para disciplinar a coleta e o destino dos dejetos.

O conjunto "escravo-barril" ilustra bem o país de tradição escravocrata em que vivemos. Mostra a incapacidade da nobreza em limpar as próprias merdas. Pra nossa vergonha e tristeza seguimos enaltecendo a cultura da servidão até hoje.


At last - Etta James
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